quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Amazonas Hércules 1912-2004




Amazonas Hércules   

 1912-2004



Amazonas Hércules foi exemplo de coragem diante das adversidades da vida.


Nascido em Manaus, no dia 5 de setembro de 1912, ficou órfão do pai antes de nascer e da mãe aos quatro anos de idade.


Sua madrinha, Lydia Cardoso Fernandes, a partir de então, passou a criá-lo. Ela, por ser espírita, deu-lhe as primeiras noções do Espiritismo, conduzindo-o às reuniões da Federação Espírita do Amazonas, de cujas atividades participava como voluntária.


Em 1954, Amazonas, portador da doença causada pelo bacilo de Hansen, antigamente chamada de lepra, internou-se na Colônia de Curupaiti, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde desencarnou em 28 de abril de 2004, aos 91 anos de idade.


Amazonas Hércules fez jus ao seu nome e sobrenome, pois era fisicamente robusto, e grande também quando sorria. A sua gargalhada gostosa transmitia a todos muito otimismo. Por essa razão, muitas pessoas sadias o procuravam em busca de ânimo para as lutas da vida. Por telefone, e pessoalmente, enxugou muitas lágrimas com sua palavra doce e confortadora, inspirada no amor de Jesus. Inúmeras vezes, mesmo sofrendo, escondeu suas próprias lágrimas para confortar aqueles que precisavam do seu coração amigo e generoso.


No Centro Espírita Filhos de Deus, que funciona nas dependências da Colônia de Curupaiti, Amazonas Hércules foi secretário por muitos anos. Com as falanges dos dedos das mãos atrofiadas pela hanseníase, ele datilografava toda a correspondência pressionando as teclas da máquina de escrever com um lápis que segurava entre a parte superior do dedo indicador e a do dedo médio. Tendo amputado a perna esquerda, também em conseqüência da enfermidade, Amazonas se locomovia de muletas para proferir palestras em diversos Centros Espíritas do Estado, e participar do programa "Educar para Crescer" da Rádio Rio de Janeiro.


Ao longo dos 50 anos internado em Curupaiti, desenvolveu, no "Filhos de Deus", amplas atividades assistenciais para o amparo dos familiares carentes dos hansenianos, mantidas até hoje, sendo uma delas a sala de curativos "Maria de Nazaré".


Era poeta, e declamava com muita propriedade poesias suas e de diversos autores. Em seu livro Canção da Esperança, o poema "Esteira de Luz" lembra a ressurreição do Cristo, em cujos versos finais diz Amazonas: 


"Na Galiléia ridente/ no lago, vasto celeiro,/piscoso, imenso mar,/vogavam barcos, veleiros,/na faina do dia-a-dia/(...) E um pescador diferente,/de olhos azuis como o mar,/louros cabelos voando,/beijados pelas brisas trazidas/ de todos os continentes,/(...) e o fato surpreendente,/testemunho mais que sublime,/eloqüente,/(...) foi a vida vencendo a morte/ na radiosa alvorada da sua ressurreição,/ após o terceiro dia de sua crucificação,/marco sublime, sem dúvida,/da vida eterna,imortal,/sublime "esteira de luz"/dessa estrela peregrina/ que foi o Mestre Jesus!".



Gerson Simões Monteiro



Fonte:
FEPARANA. Disponível em www.feparana.org.br. Acesso: 29 AG. 2012.







AMAZONAS HÉRCULES: LIÇÕES DE AMOR


Nasceu em 5 de setembro de 1912 e desencarnou em 29 de abril de 2004, a foto que acompanha nosso informativo é dele, quem não o conheceu?


Ou pelo menos ouviu falar do Gigante! Sorriso largo, sempre alegre, poeta, pronto para ajudar a todos que o procuravam, seu nome deveria ser AMOR!


Joanna de Angelis o definiu “...como um lutador do bem, temperado pelo sofrimento e trabalhado pelas mãos da renúncia e abnegação! Sua vida exemplificou uma lição de otimismo, coragem, fé e amor”.


Seus pais foram João Batista Gonçalves da Rocha e Luiza Maria da Conceição.


Ficou órfão de pai ao nascer e de mãe aos 4 anos de idade passando, então, a receber assistência amorosa de sua madrinha, Lydia Cardoso Fernandes, que não se poupava em atenções. Sendo ela espírita, Amazonas aflorou sua ligação com a Doutrina.


Dosando o carinho com a disciplina, Lydia conseguiu que o irrequieto menino completasse o primário. Fez o curso secundário na Escola do Comércio Sólon de Lucena e depois foi transferido para a Escola de Comércio da Associação Comercial.


A revolução de 1930 repercutiu em todo o país e sua família teve de se mudar para Paraná da Eva, indo residir no sítio Vilar dos Teles, onde conheceu uma nova vida, mas sua inquietude era incompatível com a placidez daquele lugar, e a falta de futuro em qualquer atividade levou-o de volta a Manaus em 1936, sozinho. 


Na capital, as dificuldades surgiram e o bater às portas em busca de um emprego parecia não ter fim até que o engenheiro, Dr. Marçal Ferreira, ofereceu-lhe uma oportunidade: ajudá-lo a de marcar os limites da cidade de Moura, no Rio Negro. 


Tempo bom, saudável, de andanças pelo mato, abrindo picadas, tomando banho no rio, respirando ar puro.


Em novembro do mesmo ano, de regresso a Manaus, foi incorporado ao 27 QBC. 


Viajou por quase todos os municípios do estado, o que lhe valera conhecimentos para responder pela Secretaria do Departamento de Estatística Militar e para a promoção a Estatístico Auxiliar. Era uma nova vida que começava.

No decorrer desse período, começou a notar novos fatos em sua saúde. 


O pé começou a apresentar uma fraqueza que atrapalhava a marcha normal e alguns sintomas já haviam aparecido anteriormente, porém nem no Exército foi diagnosticado o Mal de Hansen. 


Com a evolução da doença, os sintomas foram aumentando, as manchas aparecendo e desaparecendo e depois passou a ter desmaios com freqüência, o que o levou a uma junta médica e, enfim, ao diagnóstico.


O mundo desabou a seus pés. Saiu do consultório perturbado, aterrorizado com as perspectivas do que considerava “sua desgraça”. 


Aquele dia de pesadelo não terminaria! 


Quando chegou à repartição, uma nova decepção o aguardara. Os amigos e companheiros estavam estranhos, sérios, evasivos e distantes. Sentiu-se escorraçado! 


Em casa, a Dinda, com palavras de amor e carinho, procurou remendar e medicar as chagas abertas em seu espírito. Até aquela data, ele acompanhara sua Dinda às reuniões da Federação Espírita Amazonense e conhecia a Doutrina Espírita por ler os livros da madrinha. Embora não fosse convicto, aqueles conhecimentos o ajudaram a superar os impactos dos primeiros momentos.


Em setembro de 1944 veio para o Rio de Janeiro em busca de tratamento médico. Conseguiu trabalhar para custear suas despesas, chegou a ter três empregos e quando pediram a carteira de Saúde, tentou contornar o problema, mas não obteve êxito, o que propiciou o início de um tratamento sério a base de sulfona, custeado pelo IAPC.


Sua vida foi um exemplo de coragem, otimismo, fé e amor. Foi também por esse Amor que ele não mediu esforços, procurando partilhar com todos um pouco de seu carisma e de sua doçura.


“... com os trabalhos no Centro Espírita Filhos de Deus, passei a sentir a Doutrina em sua plenitude. A doença, com todo o seu cortejo de dores e sofrimentos, deixou de ter aquele significado de tragédia, do primeiro impacto. 


Passei a compreender o seu verdadeiro sentido de instrumento para minha recuperação espiritual. Senti a futilidade daqueles planos de ocupar uma posição de destaque na vida. Tais planos seriam, certamente a minha derrocada no desenvolvimento espiritual. 


Amputações, deformações e outras conseqüências da doença, deixaram de ser motivo de angústia e limitações para o trabalho. 


A Doutrina deu-me forças e energias para projetar-me em função do socorro a outros mais necessitados.”


Apesar do tratamento, o estado de saúde se agravou, resultando na internação no Hospital Colônia de Curupaiti, em 24 de julho de 1954. 


Ocorrera uma revolução total em que os valores subvertiam e acontecimentos pretéritos sem importância surgiam, com novos significados. 


O sentimento de oração que recebera da sua Dinda, que permanecia guardado nos porões da memória, adquiriu novo valor. 


O amadurecimento doutrinário, no entanto, aconteceu com seu ingresso no Centro Espírita Filhos de Deus, pelas mãos fraternas e amigas de Manoel Franco de Souza que o colocou no cargo de secretário, em 1956, dois anos após sua chegada no Hospital. 


Seu trabalho no bem ultrapassou as fronteiras de Curupaiti no Estado do Rio de Janeiro (Cenyra Pinto).


Com essas breves palavras, descrevemos rapidamente a vida de nosso Gigante, que hoje, na Pátria Espiritual, superou-se e continua trabalhando para amenizar as dores do mundo!


Que belo exemplo ele nos deixou! 


Trouxe no nome o estado em que nasceu e que abriga a maior floresta tropical do mundo e também o herói da mitologia grega Hercules, homem extremamente forte, mas de grande coração, que derrotou o terrível Leão da Neméia. 


É possível que a união dos dois nomes seja responsável pela grandeza e força que emanaram de AMAZONAS HÉRCULES! (Texto de Gerson Simão Monteiro)


Nós, trabalhadores do Centro Espírita Filhos de Deus o homenageamos intensamente, com a nossa humilde contribuição, dando continuidade aos trabalhos, criados por ele, nessa casa.


Atendendo sempre, que possível, a todos aqueles que batem nessa porta, ouvindo suas dores e ajudando-os em sua recuperação física, material e espiritual.


Temos muito que agradecer ao nosso querido Amazonas Hércules, pois foi através do seu exemplo, que arregaçamos as mangas e fomos abraçar esse trabalho que é tão gratificante, para todos nós!



Fonte
Boletim do Centro Espírita Filho de Deus . Rio de Janeiro 2012 Nº 67 /Ano 6 p. 4-6.





LAÇOS AFETIVOS


                                                 Luiz Carlos Formiga



O professor ainda terá espaço para trabalhar valores. O jovem se tornará mais apto para enfrentar seus desafios. Eu tive bons professores, na casa espírita e na escola. Mas a família estruturada é fundamental.


Fatores biológicos ou psicológicos podem impulsionar os jovens para a beira do precipício, mas esses impulsos são liberados ou bloqueados através da influência social e o que dá legitimidade às interdições sociais são os laços afetivos familiares. 


O afeto recebido no período infanto juvenil é que os torna capazes de tolerar e se submeterem às normas sociais e familiares, controlando seus impulsos ao invés de por eles serem controlados. 


Do Largo do Tanque nos deixava em Cascadura. Chegou repleto. Encontrei lugar. Inusitado, sentei rápido. Poderia ir no estribo, como todo jovem. O belo tipo, faceiro, tinha as mãos em garra. Olhei discretamente e percebi também orelhas alongadas. 



Na volta, chegando a casa relatei a sorte de ter encontrado lugar e falei sobre mãos e orelhas. 


Minha mãe falou-me sobre uma “colônia de leprosos” e que não me preocupasse. As pessoas podem apresentar sequelas, mas estão curadas. Não contaminam mais ninguém. 


Eu estava na era dos antibióticos e nem suspeitava que a minha monografia experimental de graduação seria com treze antimicrobianos. 


Tornei-me professor da faculdade de medicina e através dos laços afetivos visitava pacientes, na antiga colônia, agora Hospital de Dermatologia Sanitária. Lá funciona uma casa espírita.


Antes da faculdade, eu era jovem espírita, pois minha mãe havia me contaminado. O jovem, mesmo o espírita, tem suas depressões. Era tímido e não tinha coragem de abrir o coração. Minha mãe logo percebia o “momento de tristeza”. 


Era diferente do efeito colateral do antihistamínico que usava. Falou-me: “soube que aqui perto virá um palestrante muito bom. Por que você não dá um pulo lá e fica para o passe?”


Pelo visto era pessoa importante para os espíritas do Rio de Janeiro. Depois da prece lhe foi dada a palavra.


De longe parecia com o homem do bonde. Aquelas orelhas, as pálpebras caídas. Uma muleta apontava a deficiência física, mas quando começou a falar... Era um portador do “bem de Hansen”. Falou-nos da vida e com poesia lembrou Jesus.


Ele comentou que antes da doença havia pensado em ser político. Chegaria à prefeitura de sua cidade, mas a hanseníase votou nele.


O domínio cognitivo é traiçoeiro na terceira idade, mas quando penso naquele dia predomina o afetivo. 


Ele falou como Joanna: “ante as dificuldades do caminho e as rudes provas da evolução, resguarda-te na prece ungida de confiança em Deus, que te impedirá resvalar no abismo da revolta.” O paciente diz: “Mas, porque eu?”


O palestrante:“um pouco de silêncio íntimo e de concentração, a alma em atitude de súplica, aberta à inspiração, eis as condições necessárias para que chegue apaziguadora resposta divina.”


“Cria o clima de prece como hábito, e estarás em perene comunhão com Deus,fortalecido para os desafios da marcha.”


Depois de mais de 50 anos, não me lembro de suas palavras. Ficou a emoção como reforço da vacinação recebida no ambiente sócio familiar.


Aquele homem ensinava e emocionava como Renato Teixeira: “ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais”


Sua voz de Hércules, emoldurava o sorriso franco e largo: “é preciso, conhecer as manhas, o sabor das massas e das maçãs. É preciso amor, pra poder pulsar. É preciso paz pra poder seguir, É preciso chuva para florir.


Como se desejasse diminuir a compaixão de alguém, disse com humildade: “hoje me sinto mais forte. Mais feliz, quem sabe, eu só levo a certeza de que muito pouco sei, ou nada sei.”


Falou-nos de suas crenças e revelou que antes desdenhara a imortalidade da alma: “sinto que seguir a vida seja simplesmente conhecer a marcha e ir tocando em frente. Como um velho boiadeiro, levando a boiada, eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou. Estrada eu sou.


Nos fez recordar o bem da vida, a Lei de Ação e Reação: “cada um de nós compõe a sua própria história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz”.Acalmou-nos a alma falando do reencontro com nossos amores, aqui e no além. Eu precisava daquelas palavras.


Aquele palestrante não usava apenas a cognição. Palavras-luzes eram emitidas pelo coração: “todo mundo ama um dia. Todo mundo chora. Um dia a gente chega e no outro vai embora.”


Retornei renovado. Pedi a Deus que pudesse fazer o mesmo algum dia, como retribuição. Um dia, em 1988, ele me chamou ao Centro Espírita Filhos de Deus. Teríamos uma reunião com o Coronel Edgard Machado. 


Dela saí com a tarefa de escrever um texto para publicarmos em “cartas dos leitores”. 


Obrigado, Amazonas Hércules.    (Adaptação do texto original).



Fonte
Boletim do Centro Espírita Filho de Deus . Rio de Janeiro 2012 Nº 67 /Ano 6 p. 1-3.



2 comentários:

DIANA disse...

Boa noite! Peço por gentileza a Biografia de Manoel Franco de Souza.Faço um trabalho no Centro que frequento sobre EFEMÉRIDES e não consigo dado sobre ele.Desde já sou muito grata.

Divulgação disse...

Boa tarde! Infelizmente não encontramos as informações que você deseja, nem mesmo na obra Grandes Espíritas do Brasil.
Abraços fraternais!